Sobre medo e felicidade

Uma vez me perguntaram se eu tinha medo de amar. Eu, que já estava sonolenta do vinho disse qualquer coisa e mudei de assunto porque esse não é o que mais me agrada e nem era o mais apropriado pro momento. Você, que deve estar ouvindo Radiohead agora e fazendo plano nenhum pro futuro, nem se daria ao trabalho de me perguntar isso. Fugi dos sábados e de ouvir qualquer sambinha que lembrasse a gente, mas é difícil. Os sambas que diziam que você devia perdoar toda a cena, a cena que eu fazia quando você tinha de ir e não demostrava o menor esforço de fingir que iria sentir saudades minhas e da minha pele, do meu pescoço e das minhas cores.

Você que já decorou todas elas, eu que decorei o teu perfume de manhã, o mesmo que não sai do meu travesseiro e não importa o que eu faça. Eu que nunca quis me apegar com ninguém por me sentir fragilizada com isso, que sempre dava adeus sem sentimento algum e que não me preocupava com o fato de você estar se sentindo mal. Eu que não sei o que tá acontecendo. Você que apareceu e perguntou se podia passar a tarde comigo mesmo sabendo que eu odeio visitas e eu aceitando sem nenhuma resistência. Você que podia me fazer um favor.

Não é difícil perceber que eu não quero ter alguém pra mim. Não precisa de drama nem nada, só vai embora. Eu sei, tá bem, sou estranha mesmo. Prefiro Led Zeppelin a Pink Floyd, prefiro tardes em casa do que no shopping, prefiro só nós dois do que a turma inteira. Prefiro você comigo, me acolhendo no teu abraço quente, da tua barba me fazendo cócegas, dos teus beijos no cangote, do teu sorriso esquisito e como fica charmoso com camisa xadrez. Mas isso passa e a manhã chega e eu não gosto de me sentir assim. Sentir que tenho que ter algum resquício teu no meu dia pr'eu me sentir bem com o mundo. Sou uma ilha pouco conhecida, você não sabe o que te espera por lá. Não quero que seja você novamente quem irá me descobrir, me tirar a cara amarrada, me por um sorriso. Não quero, tenho medo de felicidade.