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Por inteiro

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  Somos só nós dois, mesmo que você esteja indo quase que por inteiro, pro lado de lá. Não quero causar alarme, muito menos te preocupar amor, mas aquele lado é ruim. Você se encontrará achando que as coisas estão realmente bem, quando repentinamente, o mundo parecerá cair sobre si. Vista-se como sempre e vá correr atrás daquilo que julga ser melhor. Eu ainda estou.

   Ontem, como quem quisesse mudar um pouco a rotina, fui tomar o café da manhã num lugar agradável, um tanto longe de casa. A vista era magnífica. Não me torturei e nem ao menos pensei demais por você não estar do meu lado, apreciando um bom café e uma boa companhia. Era somente eu. Havia pequenas tendas sobre cada mesa, laranja claro. Há uns dois metros de mim, havia um moço charmoso, com camiseta social, – que você sabe que eu amo – com um bom penteado e com um olhar demasiadamente atraente pra mim. Me permiti retribuir um pouco daquilo, afinal, se você não vem, não estarei triste e nem me lamentando.
   Antes d'eu sair, ele me deu uma piscadela e um sorriso de lado, isso me gerou uma pequeno motivo pra sorrir durante o dia quando me lembrava do acontecido. Fui a biblioteca principal e peguei um livro de um gênero que nunca havia lido ou me interessado antes, mas essa era justamente a ideia, fazer as coisas serem diferentes naquele dia. O levei pra casa e me surpreendi porque, não imaginava que algo que nunca pensei gostar, estivesse me instigando tanta emoção. Com relacionamentos, isso sempre me ocorreu. O diferente nos homens, era o que me atraía. Aqueles de gostos, de modos, de vida e opinião iguais nunca foram os que me chamavam atenção, pelo contrário, eu mal percebia sua presença. Você não era lá essas coisas todas, mas sabia olhar para mim. Sabia ver o que os olhos não viam. Sabia identificar o que me fazia falta e ali você se aconchegava. 

   Mais tarde, no mesmo dia, viajei pra um chalé que havia alugado, pra lá da cidade. Imagine você. A entrada dela reservava um balanço em forma de banco, bem gasto. À direita, havia a vista do lago e pras flores cheirosas que me faziam amar cada vez mais aquele lugar. Do lado de dentro, havia uma estante com uma vitrola feita de madeira antiga, de uma cor e brilho notável e abaixo dela, uma pilha de vinis, separadas cautelosamente. Ficavam separadas as de gênero romântico, de pop, rock e as demais. Noutros tempos, ouviria Duran Duran, mas dessa vez optei por Billy Williamns (1957). O clima era passível de amor e os objetos daquele lugar eram de uma autenticidade incrível. Passei um tempo admirando a vista, noutro apenas sentada, ouvindo a música penetrar pelos meus sentimentos sóbrios e irrisórios. Os momentos se tornaram diferentes por minha conta, amor. Não pude esperar por você, porque a espera é algo que eu queria poder lhe mostrar, que era descartável.  Por um lado, o teu modo de não criar grandes planos, me irritava. Por outro, me fazia aprender e talvez até se livrar de certos incômodos. 
  À esquerda, uma lareira grande e gloriosa, que propunha ao fogo um exacerbado show de vermelho, amarelo, laranja e marrom, se fundindo. E perante ela, uma continuidade célebre de assentos feitos como que propriamente, para ver aquilo. Certos instantes, o celular tocou e recebia mensagens, que ao me ver demonstravam um pouco de preocupação, eram suas. Não hesitei em não atender as primeiras, fixei o olhar, na espera da ligação ir pra caixa de mensagem e quem sabe você deixar qualquer uma que fosse. 
  Assim que finalmente atendi, não te deixei espaço para dizer nada. Falei – Não se preocupa amor, eu to bem. Estou longe de casa agora. Ele – Sei onde você tá morena, me espera dessa vez, porque eu to indo. Separa uma bebida pra gente. –   Em pouco tempo ele chegou. Bateu na porta como se eu não soubesse quem era e para entrar no jogo, abri vagarosamente, com o olhar à espreita. Sua boca era de um calor afável e os caminhos dos lábios dele eram, devo dizer, perfeitos. 

  Já amanhecia, vesti uma camiseta branca social, longa e frouxa que, remotamente, me fazia lembrar dele. Nos sentamos lá fora, naquele banco. Entre o vapor do chocolate quente esbarrando sobre meu rosto e o olhar dele, insistentemente interrogativo pra mim, falei – Se quiser ir embora, a porta da rua é serventia da casa. Mas se for ficar amor, fica por inteiro – e retirando a caneca da minha mão, com cuidado, ele colocou a mão sobre meu rosto, dando atenção em colocar as mexas do meu cabelo atrás da orelha e dizer – Não perderia a chance de ficar contigo, bem assim... por inteiro. 


Um comentário:

  1. Gostei muito e de uma Criatividade enorme
    os Sentimentos exposto no Texto remete, um sentimento de Inconformidade com o normal, ao meu ver, Fascinante. Gil

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